sexta-feira, 23 de maio de 2014

A saúde no Pico - Publicado no Jornal do Pico a 23 de maio de 2014


A saúde no Pico
Passadas que estão três décadas de funcionamento do Serviço Regional de Saúde, mais de uma década da nomeação de Comissões Coordenadoras de Saúde, da portaria que incrementou de forma regular a deslocação de médicos da carreira hospitalar aos Centros de Saúde do Pico, da criação da Unidade de Saúde da Ilha do Pico e quando está a entrar em funcionamento o novo Centro de Saúde da Madalena, é chegada a altura de novamente, digo novamente porque já aqui o fiz, clarificar o meu entendimento sobre esta questão.

A decisão da construção do novo Centro de Saúde da Madalena, um investimento de 12 milhões de euros, preparado para dar a melhor resposta a todos níveis de cuidados de saúde, na área da medicina geral e familiar, da saúde materna, da saúde infantil e da saúde escolar, veio, novamente, estimular as expectativas de finalmente se dar o salto qualitativo que sempre faltou ao serviço de saúde do Pico.

Mas também, como foi assumido e anunciado, uma nova infraestrutura desta natureza, dimensão e custo iria tornar possível voltar a nascer no Pico, permitindo pela primeira vez, internamentos e cirurgias sem que os utentes tivessem de sair da ilha. Ficando também mais capacitado para a prestação de melhores cuidados de saúde a nível das diferentes especialidades que albergariam, nomeadamente, medicina interna, ginecologia e obstetrícia, oftalmologia, otorrino e pediatria. Especialidades cuja presença poderá ser otimizada pela realização de um sem número de atos que vão desde a clinica cirúrgica pré e pós operatória à realização de toda a cirurgia em ambulatório, incluindo cesarianas e realização de cirurgias de especialidade, que implicam anestesista, como é o caso das cataratas ou da realização de outros exames como é o caso das colonoscopias ou a prestação de cuidados de suporte de vida, em situações de emergência. A existência desse quadro de especialidades na USIP não implicará, à partida, custos acrescidos já que se irão evitar inúmeras deslocações de doentes a outras ilhas.


Tendo em conta o que foi exposto e sobretudo tendo em conta o investimento enorme que já foi feito, preconiza-se que não venha, agora, a ser repetido o erro do Centro de Saúde de São Roque e que se aproveitem ao máximo as instalações construídas na Vila da Madalena para as quais se reivindicam:
  • Serviço de Urgência centralizado e com os meios técnicos e humanos indispensáveis para fazer face à urgência médica com pequena unidade de cuidados intensivos e suporte de vida;
  • Bloco operatório destinado a apoiar o serviço de urgência bem como a assegurar as cirurgias ambulatórias de toda a ilha e o apoio a exames que requeiram sedação/anestesista;
  • Bloco de partos e apoio de chamada nas 24 horas;
  • Serviço de Medicina Interna devidamente dimensionado para assegurar apoio de internamento à urgência e a patologias que, não necessitando de especialidade, não caibam no âmbito dos internamentos de retaguarda tipicamente efetuados nos centros de saúde;
  • Serviço de Imagiologia centralizado, dispondo para além da radiologia clássica e ecografia de TAC;
  • Laboratório de exames clinicas centralizado com âmbito de ilha e apoio contínuo ao Serviço de Urgência.
E ainda:
  • Aquisição de ambulância, a colocar na Piedade, com vista a cobrir as freguesias do extremo leste da Ilha;
  • Criação de uma extensão de saúde na Piedade, com consultas diárias. Lembro que o novo edifício da Segurança Social da Piedade, com terreno adquirido e projeto em fase da aprovação na Câmara Municipal das Lajes do Pico, ambos integralmente pagos pelo Governo Regional, por solicitação desse mesmo Governo regional, contempla um gabinete médico, um gabinete de enfermagem e uma sala de atendimento e espera.

Sem estarem em pleno funcionamento os serviços acima identificados não estão criadas as condições mínimas indispensáveis para a centralização, no período noturno, do serviço de urgências no novo Centro da Saúde da Madalena.


Os outros dois centros de saúde que passariam a não ter, neste novo paradigma, SAP’s, deveriam ter consulta aberta nas horas normais de expediente e apoio, nesse mesmo horário, aos fins-de-semana e, ainda, apostar naquilo que é a verdadeira vocação dos centros de saúde os quais, numa ótica de Unidade Básica do Serviço de Saúde, constituindo-se como primeiros responsáveis pela promoção e melhoria dos níveis de Saúde da população onde estão inseridos no entendimento de que “para melhorar os serviços saúde não basta uma intenção, uma lei ou uma doutrina. É indispensável conduzir um processo de mudança”.


Será o retorno a estes valores essenciais para a prevenção da doença e consequentes benefícios par os cidadãos que deverá ser o caminho dos tais centros de saúde e também o início à verdadeira poupança do sistema de saúde que começa e acaba com cuidados básicos – o verdeiro interface de um sistema racional não cortando simplesmente a direito e de forma cega.”


Há muito a poupar e a racionalizar na saúde, mas isso só será possível com meios técnicos adequados, meios humanos motivados e, sobretudo, com uma filosofia que reponha o verdeiro espirito dos centros de saúde e dos cuidados básicos.

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