quinta-feira, 24 de abril de 2014

14 de abril de 1912/O naufrágio do TITANIC e a segurança marítima - Publicado no Jornal do Pico a 24 de abril de 2014


14 de abril de 1912/O naufrágio do TITANIC e a segurança marítima
O tema, Transportes Marítimos e Segurança Marítima, é a todos os Homens do Mar particularmente caro. Todos entendem o que sobre esta matéria se diz, porém ninguém como nós, por força de muitas e dolorosas experiências, as sente.
Desde os primeiros tempos da Navegação que as questões da segurança se colocam, mas nem sempre com a mesma equidade.
Tempos houve em que se consideravam mais importantes as missões a desempenhar, ou as mercadorias a transportar, do que as vidas humanas envolvidas. Nessa época, as companhias seguradoras, fundadas por mercadores, protegiam só e apenas os seus bens materiais, esquecendo de todo a proteção à vida humana.
As civilizações evoluíram, os órgãos de comunicação social desenvolveram-se e quando a 14 de abril de 1912, na sequência da colisão, nos Bancos de Newfoundland, com um iceberg, naufragou o TITANIC, no qual, de uma só vez, perderam a vida mais de um milhar de seres humanos, a opinião pública mundial pressionou as autoridades a encarar definitivamente o problema da salvaguarda das vidas humanas no mar.
Só mais tarde ainda, com o naufrágio de navios transportadores de materiais poluentes, constituídos em grande parte por hidrocarbonetos, causando graves desastres ecológicos, o mundo foi alertado para a necessidade de proteção do próprio Meio Marinho, fator primordial para o equilíbrio ambiental do nosso planeta e fonte de recursos até há pouco considerada, erradamente, inesgotável.
Hoje, a problemática da segurança é encarada numa perspetiva global e integrada, procurando-se estudar e resolver os problemas com base no seguinte conceito fundamental: MAR MAIS SEGURO E MAIS LIMPO.
 
Antes de 1912, não havia regulamentação internacional de segurança. A tecnologia era rudimentar, os navios não eram inspecionados e o comandante do navio tinha uma autoridade absoluta. A vida humana não contava; o negócio justificava os navios afundados e os homens perdidos.
O que acontecia no mar, por lá ficava e de tal, raramente, era dado conhecimento ao mundo. Ninguém se preocupava com as consequências dos acidentes, as quais se restringiam apenas aos diretamente envolvidos nas expedições. A definição platónica dos homens – os vivos, os mortos e os homens do mar – fazia todo o sentido.
O afundamento do TITANIC teve a particularidade de não se tratar de uma vulgar embarcação e de as vidas perdidas não serem as de simples homens do mar. Com ele morreram pessoas que não eram apenas cidadãos anónimos - com o luxuoso e inafundável paquete pereceu alguma da nata da sociedade da época.
Desastres marítimos de tal envergadura punham em causa os negócios e o prestígio de entidades, e não apenas pequenas expedições marítimas onde se perdiam poucos bens materiais e a vida de simples embarcadiços como até então acontecia.
O naufrágio do TITANIC marcou sem dúvida o ponto de viragem. Foi a primeira tragédia marítima com impacto internacional. De tal forma que, dois anos passados, em 1914, com a participação de treze países, nasceu o primeiro tratado internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar SOLAS - Safety of Live at Sea.
A partir desta data, iniciou-se o processo de mudança: regulamentação internacional, desenvolvimento da tecnologia, certificação de navios e tripulações e inspeções regulares. De realçar, contudo, que só com a criação da Organização Marítima Mundial, IMO, no final dos anos 40, se publicou regulamentação internacional que enquadra praticamente todas as questões de segurança e cujo aperfeiçoamento é permanente.