sexta-feira, 5 de julho de 2019

2ª. Fase de Reordenamento do Porto da Horta/Esclarecimento - Publicado no Jornal Correio dos Açores a 5 de Julho de 2019


2ª. Fase de Reordenamento do Porto da Horta/Esclarecimento

Na sequência de um meu artigo de opinião e de declarações por mim prestadas à RTP-A, fui confrontado com um artigo de opinião de Rui Terra, datado de 19 do mês passado, publicado na Comunicação Social e no Facebook, que, não pela opinião manifestada, mas por declarações nele contidas, me deixou verdadeiramente estupefacto. Vejamos;
Fui militar, miliciano no então Serviço Militar Obrigatório. Aprendi com os militares de então e reconfirmei com os dedicados e competentes oficiais da Armada, com os quais ao longo de quase 40 anos contatei e contato, quer no plano profissional quer no plano pessoal, que uma das funções fundamentais de um militar no ativo é saber distinguir, com clareza, quando deve ou não intervir e que nunca o deve fazer no plano político.
Porque a questão da 2ª. Fase de reordenamento da Porto da Horta, atendendo às entidades públicas de natureza política, desde há muito envolvidas, extravasou o plano técnico e se posicionou no plano político, pergunto: tinha o Senhor Capitão do Porto de Cascais autorização superior para participar em reunião extraordinária da Assembleia Municipal da Horta?
Será que afirmações como, “até mesmo, a determinados pilotos a soldo, que falam em causa própria, fardados nos jardins das suas casas” ou, “A sua sugestão é qual? Responda como simples operacional que é e com base na sua experiência, não a dos outros ou por encomenda.” dignificam quem as produz ou a instituição que representa? Ou, antes, definem o carater de quem, em total desrespeito pela opinião alheia, agindo como único detentor do conhecimento e da verdade, as produzi-o?
 É claro que quando falo dos Açores, até porque, contrariamente a outros vivo cá, falo sempre em “causa própria” todavia, com a isenção e independência de espirito que me carateriza e que é pública e publicada. Afirmações como “atendendo a que não somos de São Miguel, é algo a que nós, os Faialenses, já estamos habituados”, remetem-nos para um bairrismo serôdio que já não é deste tempo e, demonstram o desconhecimento da Região que somos, dos constrangimentos da sua economia e da importância do Porto de Ponta Delgada em todo o seu funcionamento. Não confundir o ver passar navios ao largo de Cascais com o estar na ponte a manobra-los.
No que à proposta diz respeito, é lícito afirmar-se que, não só não reflete a realidade regional, as suas limitações e necessidades, como também, contém em si mesma, um conjunto de insanáveis contradições. Vejamos algumas;
Como é possível que a entrada de 50 mts, entre molhes, projetada constitua “um verdadeiro Choke Point” e um “atropelo bárbaro ao próprio Código ISPS” se a Marina de Cascais, onde o proponente é Capitão do Porto, com capacidade para mais de 600 embarcações, tem uma entrada com 50 mts de largura com a agravante de que, parte dela, é em canal e não entre molhes?
Como é possível que a entrada de 50 mts, entre molhes, projetada seja insuficiente quando a Marina de Lagos “referência a nível nacional …”, tem acesso através de um canal com ponte levadiça e, pasme-se, com apenas 11 mts de largura?
A proposta, para além de ser, do ponto de vista operacional impraticável a navios de maior dimensão – distância entre molhes na entrada exígua, cerca de metade da atual, e bacia de manobra entre o molhe Sul atual e o novo molhe a construir a Este deste, apenas praticável a fragatas, das do Tejo que não das outras - é megalómana e inviável. Creio estarmos a falar de mais de 450 Milhões de euros.
É caso para perguntar; quem apresenta propostas para “agradar a um restrito número de pessoas”, quem “com as vistas curtas de quem quer a todo o custo viabilizar movimentos de interesse próprio”, quem está a “soldo” de quem? Não serão, seguramente, os Oficiais da Marinha Mercante e Pilotos Portuários, com milhares de manobras efetuadas no Porto da Horta, em navios, não em optimists.
Lizuarte Machado
Master/Comandante da Marinha Mercante/Piloto Portuário

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