A defesa de um novo modelo de
transporte marítimo feita pelo presidente da Federação Agrícola dos Açores
O presidente
da Federação Agrícola dos Açores defendeu um novo modelo de transporte marítimo
de carga entre as ilhas e para fora da região que responda às exigências dos
mercados. “O [atual] modelo não está
adaptado aquilo que é as necessidades dos mercados hoje. As nossas
transportadoras marítimas têm dificuldade em adaptar-se aquilo que é a
realidade de hoje ao nível do transporte”, afirmou Jorge Rita. Vejamos se
será exatamente assim:
- Os Açores
são servidos, atualmente, por seis porta-contentores que asseguram a ligação
entre o Continente e os Açores.
- Esses
navios, transportam também, semanalmente, carga inter-ilhas; excetuando
Santa Maria, Graciosa e Flores que são servidas quinzenalmente. A ilha do
Corvo é abastecida a partir das Flores através da empresa Cristiano Ldª.
- A par
disto, há também uma ligação quinzenal dos Açores para o Caniçal/Madeira.
As
declarações do Senhor Presidente da Federação Agrícola parecem apontar no
sentido de passar a haver ligações de todas as ilhas diretamente com o
Continente, no sentido de garantir o menor número de dias possível da carga nos
contentores – carga em trânsito.
No modelo
atual e, atendendo ao volume de carga exportada a partir de Ponta Delgada, os
armadores de cabotagem escalam sempre este porto antes de seguirem para Lisboa.
Esta opção
parece ser a mais racional do ponto de vista operacional e económico até
porque, o modelo não é subsidiado e, queira-se ou não, a economia assim o
exige. É pena que todos (?) conheçam a estrutura de custos da sua empresa e
esqueçam que as empresas alheias também têm uma estrutura de custos que, neste
caso, só o negócio suporta.
Na minha
modestíssima opinião, o Senhor Presidente da Federação Agrícola deveria
evidenciar o que está mal, só criticar não chega, para vermos se é possível
corrigir e melhorar. É que, assim, sem evidenciar as lacunas, não sei ao que se
refere, parecendo tudo resumir-se à caça a mais um subsídio.
Contudo,
como é sabido, todo o modelo de transportes é um processo inacabado, pelo que
não poderá haver constrangimentos a que se estude o que melhor serve os Açores.
Lembro
contudo que outros modelos europeus similares têm custos muito mais elevados e
subsidiação pública. É o caso das Ilhas Orkney e Shetland, cujas distâncias
navegadas são muito menores, sendo que o frete marítimo tem, para o
carregador/recebedor, o mesmo preço que no Continente/Açores, mas apenas e só
porque é subsidiado pela Escócia a 50%.
É difícil
saber a opinião dos armadores quanto a este tema, porquanto, segundo me é dado
saber, nunca foram convidados pelo Governo Regional para, em conjunto,
discutirem esta matéria. Lembro contudo que, por iniciativa destes, os fretes
de saída/exportação são sensivelmente metade dos de estrada/importação e que os
mesmos desde 1996 têm tido sempre um crescimento nominal negativo ou nulo.
Lembro ainda que a intervenção governamental sobre
este assunto que aponta no sentido da construção de dois ferrys de grande
porte, baseando-me exclusivamente no que é do conhecimento público, entendo que
esse investimento não só não vai resolver as questões atrás referidas como até
as pode agravar. Para tal basta pensar num mercado concorrencial entre empresa
pública e empresas privadas com a empresa pública, ilegalmente, fortemente
subsidiada.
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