sexta-feira, 28 de março de 2014

Malhando em ferro frio – continuação - publicado no Jonal do Pico a 28 de março de 2104


Malhando em ferro frio – continuação

Não era minha intenção regressar ao tema. Porém, como o Senhor Engenheiro Ribeiro Pinto publicou, tendo por base o meu primeiro artigo, um artigo sobre o mesmo assunto, com cujas conclusões estou absolutamente de acordo, entendo ser minha obrigação esclarecer algumas questões pendentes.

Na sequência da minha afirmação, O resultado era suposto ser um modelo funcionando verdadeiramente articulado, com mais escalas, mas sem duplicações e oferta excessiva e inútil, acrescenta o Eng. Ribeiro Pinto “ mas também não concretiza ”. Acontece porém que não concretizei porque o fiz no Fórum Economia do Mar em documento público e publicado, disponível para consulta no site oficial da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada. Acresce que também o fiz em documento escrito remetido ao Exmo. Presidente do Governo Regional dos Açores, em 14 de fevereiro de 2013.

No referido documento afirmava: Deu já o Governo Regional resposta a duas questões vitais para a implementação de um modelo que se pretende tenha uma aceitável relação custo/benefício. Refiro-me à construção nos portos comerciais da Região de estruturas fixas que permitam aos navios operarem com rampas de popa e ao início do processo conducente à construção dos dois navios para operarem na única zona da Região onde há, utilizando a via marítima, movimento estável e permanente de pessoas, o Canal Pico/Faial e o Triângulo – mais de 400.000 passageiros ano.

Para complementar o atrás referido, a Região necessita de responder às questões que ainda se colocam dentro de cada grupo de ilhas e ao inter-grupos, a saber:

Para o Grupo Central, é necessário um Ferry de cerca de 50 metros, velocidade da ordem dos 22/25 nós e capacidade para cerca de 30 viaturas e 400 passageiros. Este pequeno ferry não só faria as ligações ao ferry do inter-grupos, como faria, todo o ano, outras ligações, indispensáveis no Grupo Central. Estou convicto que, neste caso, um catamaran seria mais adequado, porque também mais estável, mais confortável e mais rápido na circunstância em que seja necessário efetuar alguma ligação inter-grupos. Este navio deverá ser propriedade da Região, não necessariamente propriedade pública.

Para as ligações inter-grupos, é necessário um ferry de médio porte com cerca de 90/100 metros e velocidade entre os 20 e os 22 nós, de forma a dar resposta, em simultâneo, à procura turística e à procura, pura, de transporte sazonal e de um serviço/horários que correspondam às necessidades globais regionais, com continuidade e segurança e ao qual não se aplique o conceito de day-ferry. Este navio deverá continuar a ser afretado e apenas nas situações em que a procura o exija. Estou convencido que com uma boa gestão da restante frota nem será necessário.

Nos Grupos Oriental e Ocidental, porque se tratam de ligações apenas entre dois portos, a abordagem é necessariamente diferente.

Para o modelo ser racional e responder às necessidades o navio para o inter-grupos deverá, nos poucos meses em que opera, efetuar duas escalas semanais em cada sentido nos portos de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo, Horta e Lajes das Flores e, apenas excecionalmente (eventos relevantes), nas outras ilhas, funcionando os outros navios como feeders. Daqui resultará poupança significativa em combustível e em custos com operações portuárias.

O resultado terá de ser um modelo funcionando verdadeiramente articulado, com mais escalas mas sem duplicações e oferta excessiva e inútil. Importa não esquecer que tudo o que é excessivo e inútil se traduz em custos também eles excessivos e inúteis.

Não surge por acaso, nem é a primeira vez que faço, a reflexão que transcrevi nos parágrafos anteriores. Surge sim porque, concorde-se ou não, traduz uma ideia sobre um modelo possível, com o qual a Região, com um melhor serviço, muito poderia poupar ….Era e é objetivo desta proposta não colidir com o Tráfego existente, extremamente fragilizado dadas as baixas taxas de ocupação, até porque, uma empresa pública fortemente subsidiada não pode, legalmente, concorrer, nos mesmos segmentos de mercado, com os operadores privados que não recebem qualquer apoio estatal.

Quanto às taxas de ocupação aguardava e aguardo reação/esclarecimento por parte da Atlânticoline para as poder esclarecer. Contudo, o PIT dá nota de que em 2013 esta empresa transportou 69.918 passageiros. Mesmo utilizando os critérios de Eng. Ribeiro Pinto teríamos uma taxa de ocupação de cerca de 9%. Como o próprio afirma tal não altera, nem as conclusões nem o meu raciocínio – taxas de ocupação muito abaixo do limiar aceitável.

Do exposto conclui-se que, tal como o Eng. Ribeiro Pinto, também não tenho dúvidas que a Região tem que ter um sistema de transporte de passageiros e viaturas. A questão que se coloca é a de como implementar níveis de serviço adequados à procura sem, o que acontecerá com os dois navios a encomendar, destruir o circuito regular de abastecimento existente, levando à falência os operadores existentes e pondo em causa as atuais obrigações de serviço público.

A confirmarem-se as novas construções, estará a Região preparada para fazer face aos respetivos impactos, económicos e sociais, e ainda assegurar o abastecimento regular de todas as Ilhas? É aqui que reside a minha dúvida. Neste caso, navegar à vista é demasiado arriscado pelo que os estudos de suporte a tal decisão já deveriam estar concluídos e ser públicos até porque os atuais operadores, dado o elevado volume de investimento que efetuaram, precisam de saber as linhas com que se cosem.

No limite poderá ser chegado o momento em que, sem preconceitos nem ideias pré-concebidas, tal como afirma o Eng. Ribeiro Pinto “ temos que estudar todo o sistema de transporte marítimo “.

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